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desmedida a cor
desmentido o tom
segue a cega às cegas
desfazendo o que mestre falou

regina ragazzi

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será que me lembrarei das horas passadas à janela cismando sonhos?
e do fardo, qual o peso que levarei nos ombros?
os dias um dia serão todos iguais e rirei como criança
e brincarei como criança que acaba de nascer
e vai desaprendendo coisas que sabia
e tudo será tão indiferente e tão sem...
...o quê mesmo??
os pés caminham lentos,
mas os passos vão pulando  amarelinhas
(eles têm pressa), eu não.
nosso tempo anda em desacordo
quanto mais ele acelera,  mais me desgoverno

regina ragazzi

...

só o que não muda é essa janela aberta 
com o vento de ir e vir sobre o parapeito.
brincadeira de não ter o que fazer.
esse ladrão, de tantas mãos, 
a me tocar no escuro

regina ragazzi

...

lamber a cria, que mal há?
lambo a cria vez ou outra
mesmo que imperfeita
(até porque imperfeita!)
gosto bom, cheiro bom
de coisa única,
coisa eu

bom ter aprendido todo o alfabeto

regina ragazzi

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as ruas que me desertam
desenhadas na palma da mão
têm  tamanhos  infinitos
é sina essa secura que me cerca
essa chuva que não chega aos pés
em nenhuma estação
é rara essa raiz que cresce entre os dedos sem arejo,
faminta de cor, de olhos úmidos
apontando em outra direção

regina  ragazzi

...

ando na contramão do verso
do belo
do correto
autonomia total pra escrever"o meu certo"
despreocupa-me o entendimento
meus nadas não estão fora, estão dentro...

regina ragazzi

...

pra o corte na língua
a língua sem corte ameniza
o acre da fruta adocica
e não faz mal engolir a saliva

regina ragazzi

...

nesse rio tem peixe
nesse rio eu rio do riso do peixe
nessa água que daqui de fora me vejo
Límpida que só!!

regina ragazzi

...

celebremos  pois essa distorção de coisas
esse descomprometimento com o que já há
sejamos criativos,  criemos inutilidades literárias
vamos colocar tudo numa panela e ver no que dá

regina ragazzi

...

ah,sonho meu!
quantos  devaneios me  cismam à pele
enquanto contemplo essa lua tão longínqua
tão pura de cor e tão sedutoramente traiçoeira

regina ragazzi

...

num sonho um ensaio de ida
como se tudo fosse terminar ali
num flashback de fotografias
de "fui feliz"
o corpo simulou a despedida
teatralmente ele chegava ao fim
mas faltou o último suspiro, que falhou
na hora h covardemente ele falhou

ah, essas imperfeições que somos
essa falta de coragem que amamos em nós
(por que não??) 
se nos salva ou nos condena, que importa
é sempre uma saída pra quem ainda não está pronto
uma "ferramenta que vira e mexe nós usamos
nós ... os humanos...

regina ragazzi

...

tá faltando a vertigem
tá faltando o espanto
a garganta seca
a revirada no estômago

é tanta mesmice de A a Z 

regina ragazzi

...

É assim:
Feito um buraco (que já foi negro)
é, ás vezes ainda fica negro
mas enfim, um buraco,
um vazio, 
um ponto de interrogação
e a gente se pergunta
-onde?onde?onde?
-como?
e a gente quer descobrir e não consegue.
a gente poucos
a gente loucos
a gente que sabe que há e não se contenta em só saber
é um incêndio, que a gente não consegue apagar
e que os outros não entendem

regina ragazzi

...

ainda não me conheço
e fico aqui a cismar.
mas, quem si??
nesse mundo de vaidades
de não verdades
de inversão de valores
onde tudo beira a falsidade.

não me culpo
acho até melhor assim
passar sem me saber,
sem me descobrir
tenho medo de mim

regina ragazzi

...

o pio 
sobre o verde
sobretudo aqui, 
que não tem voz
que não tem ás nem ós.
manhã assim
de canto
enquanto tudo mudo

regina ragazzi