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terça-feira, 30 de maio de 2017

...


Desfio por horas a fio
O rosário, o novelo, o meu cabelo
Desfio ao fio da navalha
Ao frio do mês de maio
O fio por um fio estendido
na palma da minha mão
regina ragazzi

domingo, 28 de maio de 2017

....

...eu mesmo me pego rude  às vezes
desamarrando os  pés dos sapatos
correndo acelerado atrás da minha sombra
com um já planejado golpe certeiro
Me confundo todo, me enfureço ao ver
que ela é mais sábia que eu
atiro pedra em poça,
descasco  tinta da parede ,
grito todos os "impropérios"
me descabelo
e nada...
...eu mesmo me pego dócil às vezes
acariciando a cria que sou
alimentando o sol todos os dias
e  ela me olhando azul da janela
...eu mesmo me pego às vezes
partido ao meio sem saber à que lado pendo
e durmo
e acordo
na dúvida se sou um ou dois de mim...

regina ragazzi

...

O "fazer sentido" quase não cabe em mim...
A árvore de outono me fisgou os olhos
e eu queria, queria escrever uma poesia pra ela,
pra dizer do seu tronco esbelto, dos seus galhos rijos
e da sua quase nudez de folhas
Ela é linda, e coube sim dentro dos meus olhos
assim, de me fazer esquecer o dia, minhas poucas horas
de refazer outras paisagens na retina.
Ela me coube como eu mesmo me caibo quando me olho no espelho e perco horas redescobrindo sementes dentro de mim pra florescer na próxima estação.
Ela é linda, no alto daquele morro envolta de azul  a se despedir do dia.
A árvores me valeu a poesia...


regina ragazzi

Acabou-se o que era doce

A árvore foi cortada. Não sabiam, nem os passarinhos nem  as maritacas.Não foram avisados de que perderiam galho de pouso e almoço.

A árvore foi cortada sem pedir licença à natureza por causa de uma briga quase de foice.
Nela, se deitava uma rama de maracujá que ia lhe tomando conta.
Bem verdade que tb se enchia de ervas daninhas. Não era cuidada, estava apenas ali onde escolheu de nascer.
A árvore foi mutilada. Só sobrou um toco , e nesse toco amanheceu hoje um passarinho...

regina ragazzi

Cotidiano

Ela sempre canta.Seja na cozinha preparando o café da manhã, ou no tanque esfregando as roupas sujas.
É bonito de ver como dobra o corpo e estende, 

os braços até o balde, separa peça por peça e pendura no varal.
Ela faz isso com delicadeza, sem pressa de acabar.
É bonito de ver depois,  o vento balançando o varal, e o efeito colorido e perfumado se espalhando no ar.
É bonito de vê- lá voltar à cozinha, pegar uma xícara, despejar o café quentinho e cheiroso e toma-lo devagar, aos goles, sentada na cadeira, correndo os olhos lá fora no varal, nas roupas, percebendo o vento, sentido o perfume entrando e se misturando ao cheiro do café.
Ela sorri satisfeita.
É bonito de ver como se levanta da cadeira, e vai até a pia em  passo leve , curto, mas firmes ao chão, abrir a torneira e mergulhar a xícara.
Por um instante seus olhos se perdem ali, naquela água se derramando.Talvez uma antiga lembrança... Mas é só por um instante. Ela logo retorna  a função, agora com outra canção enquanto deposita a xícara na pedra fria da pia.

Ela hoje é a minha poesia.


regina ragazzi

quarta-feira, 17 de maio de 2017