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segunda-feira, 23 de julho de 2012

Sobre a Poesia - Por Órris Soares



Sobre a poesia

Há modos de versejar, nunca modos de poetar. O verso é o elemento material de que o espiritual é a poesia, podendo haver, como há, muito verso sem poesia e muita poesia sem verso. O verso propriamente dito não é arte, é artifício. A arte está contida no elemento subjetivo, na alma da forma que é a poesia. Não quero assim afirmar possa haver um verdadeiro poeta sem verso.O verso está para a poesia em maior exigência que a pauta para a música.Platão não foi um poeta, foi um prosador poético, do mesmo modo Renan embora muito das suas frases sejam dos melhores versos da poesia francesa. Todo homem vibra por suas paixões. Se assim o homem em geral, pior o poeta em particular, criatura cujas forças intelectuais se denunciam pelo alto grau de construção espontânea com que o dotou a natureza. A paixão é um acréscimo da alma, um aumento de força da sensibilidade. Quando Montesquieu afirma que ela faz sentir e nunca ver, ou toma a paixão pela explosão das paixões, ou esquece que é debaixo do seu império que se criam as formas de arte e se apreendem os segredos da vida. E tal só se consegue, sentindo-se, vendo-se e compreendendo-se. Para serem suas paixões acima de mais nada, o poeta tem que sentir a vida, o amor, os desejos, a força, a vastidão, a piedade, a cólera, o que sorri à flor das águas e o que brame no fundo dos oceanos, tudo que é bom ou tudo que é mau, o que rasteja ou o que se alcanfora, a beleza atraente e a repelente fealdade dentro de si mesmo, do seu temperamento transbordante no mundo de sua visão. Afastando-se do "eu" para trabalhar conforme medida pode conseguir talho pimpão , mas sacrificando-se na individualidade e imolando a lira. O que há, sempre houve e haverá é um gigante gravando a fisionomia nas medalhas que cinzela. . A grandeza é uma decorrência íntima e sonora da própria personalidade. ............ O que existe por todos os séculos além é a poesia, espiritualidade das coisas, e o poeta, intérprete dessa espiritualidade, por via, obra e graça de maior poder sensorial que os demais humanos. E tanto é poeta o que parte do real para se mergulhar no ideal, como o que desce do ideal para sentir o real. Nesta ascensão ou nesta descenção, cada um tem o seu colorido, a sua música, a sua forma, sua personalidade tocada de luz.
Trechos retirados de "Elogio de Augusto dos Anjos" por Órris Soares.

regina ragazzi

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